sábado, 20 de fevereiro de 2010

A princípio não quis abrir a janela e sentir aquele frio gelado nas minhas veias.
Queria estar sozinha, respirar o ar do meu mundo e fingir que era só eu, apenas eu, nada mais que um simples 'eu'. Abri o cofre onde guardo as cartas de um amor falhado e separado pela distância, reli os gestos das fotos da minha infância, voltei a olhar para olhares que nunca mais serão contemplados, bebi a ultima gota da garrafa de cerveja sem sabor. É o meu mundo, oh, se é... À medida que ia massajando os sentimentos,comecei a sentir as tão indesejadas lágrimas correrem-me pelo rosto; fui-me abaixo e senti que estava na altura de abrir a janela para que o vento as secasse. Então assim fiz. Lentamente, muito lentamente, fui afastando as recordações da minha beira e dando uma ultima olhadela por aqueles pedaços de sentimentos e, de seguida, levantando. Fixei a janela com as suas persianas escuras onde o sol tentava trespassar, a roldana pouco gasta e envolvida em teias de aranha e pó e fui-me aproximando. Confesso que a ideia de sair do meu mundo me assustou profundamente mas tinha que o fazer. Comecei, então, a puxar aquela roldana velha que chiava de quase nunca ter sido usada. À medida que o fazia, ia sentido uma brisa leve e fresca que me refrescava a mente, o corpo, os pensamentos. Fui puxando e puxando e puxando e puxando. Comecei a avistar uma luz forte, amarela, que me cegava os olhos... Mas não me fiquei. Puxei, puxei e puxei e puxei. Já estava quase no fim e passei os olhos pelo que estava para lá daquela horrível persiana: era outro mundo, outro pedaço de terra onde as pessoas traziam uma máscara e escondiam o que eram. Para quê? Bem, não sabia o que me esperava mas havia algo que me puxava e nem hesitei um segundo que fosse. Saltei para lá da janela e fui à descoberta daquele mundo. O que eu vi? Um mundo onde há ódio, dor, raiva, sofrimento, fome, podridão, tristeza, guerra, falsidade, mentiras, armas, injustiça, violência, mortes, esquecimento, pouco amor, glamour, dinheiro, álcool, drogas, sexo, felicidade, alegria, contentamento em descontentamento. Vi pessoas fingirem algo que não são, vi pessoas chorarem por debaixo das suas máscaras, vi amores juntos e amores separados, vi reino levantar-se contra reino, vi castelos desmoronados, vi crianças morrerem sem amor, à fome, esmagadas e sufocadas pela dor, vi as lágrimas dos heróis da guerra ao matarem alguém, vi pessoas e enganarem pessoas, vi dor no olhar dos felizes e riqueza no olhar dos infelizes. Escondi-me para que não me vissem mas, no mesmo esconderijo onde eu estava, comigo estavam lá milhões, milhares que se escondiam tal como eu, fugitivos de um mundo cruel onde os sentimentos são mastigados juntos. Ouvi as suas experiências, histórias, pensamentos, ideias e, tal como eu, eram pessoas que trajavam de máscaras leves e fáceis de descartar. Senti-me em casa.
Assim passaram três segundos, cinco minutos, oito horas,
doze meses, dezasseis anos de uma vida. E é mais um dia. Levantar, lavar, vestir, comer, colocar a máscara, sair, lutar e SOBREVIVER AO OUTRO DIA.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Hoje foi o dia em que te disse adeus.
Adeus a tudo o que vivemos.
Adeus aos beijos, à saudade, à vontade, à tristeza.
Adeus a todos os momentos de amargura e eterna alegria, momentos refrescantes e profundo aconchego.
Adeus a horas gloriosas e conflituosas.
Adeus a um amor que acabou por acabar...
Sim.
Agora ficam as lembranças, as más e boas coisas, a tua imagem na minha cabeça, os teus olhos e os teus lábios entregues aos meus como que numa dança romântica.
É triste, sim, é triste.
A distância matou todos os nossos sonhos, ambições. Ela é a assassina dos nossos corações.
Mas nunca te esqueças que serei sempre a tua sereia e tu serás sempre o meu eterno patife (L)